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Pela Rua Direita



Ao subir as ladeiras íngremes e cansadas de Ouro Preto, dizem os mais supersticiosos, se apurar os ouvidos é possível ouvir os sussurros conspiratórios, as intrigas, os segredos mais bem guardados da cidade que foi o palco e a casa dos Inconfidentes.

A riqueza, guardada nos majestosos altares das muitas igrejas da antiga Vila Rica, esconde - ou não - o sofrimento e a dor que aquela pequena cidade carrega. Hoje, com turistas andando pelas ruas o dia inteiro, é difícil imaginar a Ouro Preto dos séculos passados, quando a ambição já era a maior causa da decadência humana.

Entro na Casa dos Contos, que foi sede de governo, cadeia e casa de fundição, onde se faziam as moedas da Vila Rica. Num dos cômodos da casa a plaquinha: "aqui nesta sala foi encontrado o corpo de um dos inconfidentes, o poeta Claudio Manoel da Costa". No subsolo, há alguns anos, quando da sua reforma, foi encontrada uma senzala. Desço as escadas devagar, tanto pelo piso escorregadio, quanto pela tristeza que emana daquele lugar. Um frio e um vazio desconcertantes. Não tem como se livrar de um arrepio.

Volto a andar pelas estreitas ruas de Ouro Preto. Quantas histórias guardam aquelas pedras. E a cabeça do mártir da Inconfidência, o Tiradentes? Ninguém sabe, ninguém viu. Sumiu numa madrugada de 1792.

Sigo viagem até São João Del Rey. O que chama mais a atenção na cidade, além da parte histórica, são os nomes das ruas. É um tal de governador daqui, senador dali, deputado de lá. Devia ter uma lei que nome de rua teria que ser de gente da comunidade que fez diferença.

Próximo destino, Tiradentes, uma minúscula cidade com uma pujança cultural de dar inveja. São menos de 10 mil habitantes na terra do inconfidente mais famoso do movimento libertário. Além do Carnaval que atrai milhares de turistas, a cidade mantém diversos eventos culturais ao longo do ano e, desde 1998, realiza a Mostra de Cinema de Tiradentes. Que lugar encantador!

Uma viagem a um passado nem tão distante. Em comum, além da corrida pelo minério mais valioso, as cidades têm uma rua, a Rua Direita, um costume que vem de Portugal. Invariavelmente ela era a mais importante via pública do local e normalmente leva a uma igreja. E como tem igreja! Em Tiradentes, a Rua Direita leva até a ''Capela de Nossa Senhora do Rosário'', em São João Del Rey leva à igreja ''Nossa Senhora do Carmo''. Aliás, outra coisa que me intriga: como o Aleijadinho fez tanto em tão curta vida? Obras de perder horas na frente.

Caminhando pela "Rua Direita" dessas cidades, calçadas com pedras do "tipo pé-de-moleque", apreciava a arquitetura colonial dos velhos casarões. O silêncio das pedras das ruas e daquelas edificações iam contando a mais fascinante e intrigante parte da nossa história. Uma cultura e uma diversidade que demonstram a riqueza de um gigante que precisa acertar o passo, porque o melhor do Brasil é o brasileiro. De norte a sul!

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